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terça-feira, 24 de junho de 2014

Crítica: A Família Bartlett (Lymelife)

Depois de muito sem postar por aqui, e há mais ainda sem dar dicas culturais, volto com uma crítica do filme "Lymelife", que no Brasil é "Família Bartlett". Originalmente postada no blog Trezentas Páginas, esta crítica representa minha opinião sobre este filme, diga-se, pouco conhecido, mas que aborda de maneira realista a relação familiar de tempos recentes. Com Emma Roberts -  que melhora qualquer filme - e Alec Baldwin, "Família Bartlett" é daqueles longas com orçamento limitado, que se vale da casualidade para tocar quem assiste.

Sem muito mais, deixo o texto de Fábio Nunes:

Excelente

Diretor(a): Derick Martini
Duração: 95 min.
Elenco principal: Rory Culkin, Emma Roberts, Kieran Culkin, Alec Baldwin.
Classificação: +12

Sinopse: Ambientado na Long Island dos anos 70, a história é apresentada através dos olhos de Scott, o filho adolescente da família Bartlett. Intrigas, adultérios e problemas econômicos desestruturam duas famílias que naufragam no sonho dourado americano.

***
Tudo bem, eu sei que ninguém conhece esse filme. Mas é que ele é tão bom que eu simplesmente preciso divulgá-lo. Já faz tempo que eu o vi, então a crítica vai ficar um pouco pequena ashuashu. Nem sei direito o que dizer sobre ele, mas vamos lá.

Acho que esse é um dos melhores filmes dramáticos que eu já vi. Sinceramente, aqui no Brasil ele não fez sucesso nenhum, mas pelo conteúdo que aborda, não sei dizer o porquê. Lida com os mais diversos temas. De insegurança adolescente à violência doméstica, A Família Bartlett consegue juntar as coisas de um jeito tão real que, às vezes, você até esquece que é um filme. As atuações exímias só reforçam essa ideia: Rory e Kieran Culkin, Emma Roberts, Alec Baldwin... eles estão fantásticos.

Fora que o roteiro foi escrito por irmãos, Derick e Steven Martini. O fato de existir essa relação próxima entre eles, somado ao outro fato de que os irmãos do filme (interpretados por Rory e Kieran Culkin) também são irmãos na realidade, cria uma química perfeita.

A Família Bartlett é um tesouro de boas atuações, além de possuir um ótimo enredo. Um filme que trata sobre todas as questões polêmicas que envolvem família, mostrando as relações conturbadas de pai e filho, mãe e filha, irmão e irmão, etc. Torna-se impossível não se identificar com pelo menos um personagem.

Altamente recomendado.

*****
Lançado em 2008, o filme contou com US$ 1,5 mi para a produção. Realmente vale a pedida, não?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Na política quase tudo tem motivo, até mesmo a sinceridade.

Não escondo minha predileção pelo Senador, Roberto Requião, do PMDB-PR. Seus mandatos no comando do Estado do Paraná foram de algum modo proveitosos, pelo menos, na minha opinião. No entanto, o foco desta postagem é outro. Trata-se de uma vídeo com declarações do senador à respeito de publicações contrárias ao atual Governador do Paraná, Beto Richa, do PSDB.



Veiculado através da página do senador na internet, e em seu canal no Youtube, as declarações sobre o direito da ampla defesa em relação às acusações realizadas pela revista Istoé e pelo Jornal Folha de São Paulo, acerca do governador Beto Richa, são até certo ponto pertinentes. Veja bem, "até certo ponto".

Precisamos convir que Requião não "dá ponto sem nó".

Para quem há pouco havia pedido prisão ao governador, (vide aqui) até que o esclarecimento foi rápido - mesmo que o apoio seja pontual. E me desculpem os mais detalhistas, mas simplesmente assim é na política! Campo, onde quase sempre as divergências são amplamente rejeitadas quando é conveniente. E este é apenas um breve exemplo.

Para entender os reais motivos do apoio a Richa, não é preciso vagar muito - na verdade um apoio a si mesmo, digamos, maquiado pela situação. Por mais de uma vez o senador do Paraná teve problemas com a imprensa. Problemas sérios, como o divulgado pelo portal UOL, em que Requião toma um gravador de um repórter da Rede Bandeirantes. 

Enquanto governador do Paraná, Requião foi por diversas vezes acusado de nepotismo tanto pela imprensa, como por concorrentes eleitorais. E naquela época, a ampla defesa não foi tão citada. O que aparentemente acontece é que no jogo da política, é preciso aparentar ser melhor com as mais inúmeras virtudes. Assume-se o risco de se cair no "poço da bondade", por isso a cautela e a dosagem. Requião costuma tomar esse cuidado, mas dessa vez acabou defendendo um direito por meio de uma imparcialidade já maculada.


Tão longe (quando convém), tão perto (quando convém)... não, não é um filme.

É importante fomentar, para um entendimento maior, a proporção do ocorrido. É sabido que o tema não vai circular na mídia. Poucos puderam perceber a jogada política em sua essência. Porém, ainda que irrelevante, a questão demonstra muito à respeito do cenário político.

Daí ainda a necessidade de se entender que no alto escalão não há que se falar em idolatria. Enquanto cidadãos e eleitores é preciso pesquisar, pesquisar, e pesquisar mais ainda quando se diz respeito da escolha de um candidato. Mesmo passo quando se pretende efetuar uma compra valorosa. Quem deseja comprar um veículo, por exemplo, caso esteja atento, sempre acaba por encontrar falhas e desacordos. É só prestar atenção. De mesmo modo na política, independente da agremiação partidária.

E este artigo é bastante oportuno, sobretudo em 2014, ano eleitoral para os principais cargos políticos do país. Particularmente sobre a questão principal do texto, embora Roberto Requião não tenha oficializado sua candidatura ao governo estadual - talvez nem oficialize - suas declarações fomentam a velha política que procura conectar-se e desconectar-se do passado a fim de vantagens futuras.

Atualização: 08/08/2014, às 16h42

Duas notícias que ilustram exatamente à quantas anda o cenário político:

Passeio de Beto Richa de Harley termina mal
Dono de restaurante desmente que Beto Richa tenha sido hostilizado


Ambas publicadas ontem, 07/02/2014. Uma relata uma completo escândalo e outra desmente.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

R$ 3,8 mi em viaturas para a PRE; Parabéns governador, o senhor sabe o que quer.

Em notícia veiculada pela Agência de Notícias do Estado e repassada pelo "Bem Paraná", não posso deixar de questionar os números apresentados em relação a compra de 22 viaturas para a Polícia Rodoviária Estadual, em dezembro de 2013.


As 22 Hilux entregues a PRE

Como diz o trecho da notícia: "Ao todo foram investidos R$ 3,8 milhões na aquisição destas caminhonetes". A reportagem ainda esclarece que a verba utilizada na manobra advém de "um fundo gerado pela cobrança em rodovias concessionadas".

Agora, por partes. 

Primeiramente, que valor é esse? 3,8 milhões de reais gastos em 22 viaturas? Fazendo as contas dá aproximadamente R$173,000,00 por veículo. Alto, não acham? O intrigante vem a seguir. Pelas imagens, dá pra notar que os opcionais da caminhonete me fazem ter quase certeza de que se trata de uma versão SR Automática, com algumas modificações, mas que tem preço de mercado avaliado em R$124.440,000. (Vide site da Toyota) O modelo conta com bancos de couro e tração nas quatro rodas, além de câmbio automático - A questão sobre os bancos de couro gera divergências sobre qual a versão comprada, afinal a Toyota vende seus veículos em modelos fechados, isto é, sem possibilidade de incrementação. Mas, por se tratar de uma destinatário especial, certamente houve acato a pedidos diferenciados.

Bancos de couro e câmbio automático nas viaturas da PRE

O curioso, no entanto, é que se o veículo veio de fábrica com alterações incomuns aos vendidos no mercado,  e também pela grande compra, será que não poderiam negociar algum tipo de desconto? Putz, 22 caminhonetes, e nada de pechinchar? Grandes redes de varejo fazem nome com os descontos que recebem de seus fornecedores e acabam passando aos clientes. O governo não podia fazer o mesmo? - processo licitatório onde está você? E mesmo que não tenha feito qualquer exigência, o que vejo é uma diferença de quase R$50.000,00 entre os preços de fábrica e o preço final, com decalques e equipamentos necessários, é verdade. Mesmo assim, é muito dinheiro! Pelo que foi dito, e visto o que há a mais é um computador com sinal de telefonia 3G e que também pode operar por GPS. Agora, será que esse supercomputador foi custeado em mais de R$40.000,00? Certamente não. E se chegasse a 1/8 disso ainda seria caro.

Ainda na mídia, há inclusive, discordância quanto ao valor unitário de uma viatura, tendo em vista, por exemplo, duas viaturas entregues em janeiro na região de Campo Mourão. O valor divulgado pelo portal Itribuna é de R$190.000,00 por veículo! Quer dizer, pleno desencontro de informações - tentei localizar a despesa no Portal da Transparência, porém não obtive sucesso, aquela interface não é nada ergonômica e intuitiva para se pesquisar.

Tamanhas incoerências despertam até a dúvida quanto às intenções políticas da medida. Por que veículos tão caros? Por que um suposto superfaturamento? Eleições estão logo aí, será uma tentativa de "comprar" uma classe? Por óbvio, que essas são apenas conclusões precipitadas, mas que ocorrem na medida da condução dos fatos.

Por outro lado, pode ser essa apenas mais uma ação com intuito de intimidar a população com o clássico poder de fogo da Polícia. Tática válida, mas que não resolve de vez o grande problema que é a criminalidade.

Em segundo lugar há outra questão, que embora até prevista em contrato, é passível de discussão. O tal fundo em parceria com as concessionárias é válido até que ponto? Quero dizer, na região do norte-pioneiro, onde a concessionária Econorte atua, por exemplo, há graves acusações acerca da legalidade e legitimidade da atuação da empresa. Questionamentos severos e em geral muito válidos, haja vista irregularidades com questões orçamentárias e mesmo logísticas, como a que envolve a praça de pedágio localizada em Jacarezinho - minha cidade natal. É razoável que uma concessionária funcionado irregularmente financie sua proteção com agrados às Polícias? Tudo muito discutível, não acham?

A famigerada praça de pedágio no meu município natal, Jacarezinho.

E por falar em pedágio e discussão...

Bom, isso fica pra outro post.

Até mais ver!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

U2 "The Playboy Mansion" - Quando o dinheiro compra o paraíso.

"The Playboy Mansion" - Pop, 1997


Capa de Pop, 1997

O U2 dos anos 90 foi deliberadamente diferenciado. A banda vivia uma onda mais ousada, época de testes, reflexões e críticas. "The Fly" e "Numb" acabaram sendo explícitas em seus propósitos - "The Fly" nem tanto, mas vale a resposta pessoal aos críticos - no entanto, esse U2 não parou por aí.

Uma canção porém, merece entrar pra esse rol, geralmente ela passa por despercebida na que para muitos é a pior década da banda, entretanto seu contexto justifica. Trata-se de "The Playboy Mansion".

Fantástica essa faixa! Uma letra que traz a tona os vícios da sociedade naquele momento - que se mantém. A turnê Zoo TV já havia ilustrado o que era aquela época de telas e propaganda para todo lado, mas o álbum Pop veio para coroar a série de críticas à década.

"Playboy Mansion", em especial, discute o novo sentido que a espiritualidade ganha na sociedade materialista. Nela, elementos do culto religioso são associados às figuras do capitalismo. Assim, por exemplo, a Coca é um mistério - como os contemplados nas orações - e a história, vejamos, é Michael Jackson. 

Completam os versos seguintes: "Se a beleza é verdadeira / E a cirurgia fonte da juventude", após cumprirmos todos esses requisitos: "O que eu faço? / Tive eu a honra de atravessar / Os portões daquela mansão?"

Em sete versos Bono esclarece sua proposta. Numa série de associações que confunde o sagrado com o material, o objetivo é mostrar que na verdade o paraíso está aqui, e é a famosíssima Mansão Playboy. Símbolo do poder terreno, da liberdade e do desafio. O verdadeiro objetivo.


A revista Playboy é até hoje considerada um símbolo da liberdade.

Entretanto, a letra não se encerra aí. O restante vem reiterar como o paraíso recebe forma mundana. Referências como "Big Mac" e "O.J. Simpson" - OJ textualmente na canção como OJ de Orange Juice - complementam a noção popular a que se pretende.

O trecho que volta a questionar duramente o modo de vida é: "Chance é um tipo de religião / Onde você está condenado pelo simples azar / Eu nunca vi aquele filme / Eu nunca li aquele livro / Amor, desça aqui / Deixe meus números aparecerem" que provoca o sentido efêmero e aleatório da vida. Por isso mesmo "Não sei se posso aguentar / Não sei se sou tão forte / Não sei se posso esperar tanto / Até que as cores fiquem reluzentes / E as luzes se acendam".

Morrer, com certeza esse não é o desejo mais frequente quando se almeja uma condição melhor. Enxergar as "luzes" a que Bono alude, de acordo com muitas religiões não é algo que se faça na Terra, certo? Que se fazia na verdade, porque com a Mansão Playboy e todo o complexo em que vivemos isso é sim possível. Ou parece, pelo menos. "É quem você conhece que o faz atravessar / Os portões da mansão Playboy / Então não haverá tempo para a tristeza / Então não haverá tempo para a vergonha".

Viver é difícil, não escolhemos onde nascemos, nem qual a nossa condição social. Ricos, pobres, enfim, podemos nascer com qualquer status, e inclusive ganhar um novo, seja com esforço do trabalho - ou pela ausência dele - ou mesmo, num piscar de olhos - dá-lhe Mega-Sena.

O sonhado acesso à Mansão Playboy pede dinheiro, é coisa para abastados. Na sociedade do culto ao corpo e do "ter", nada agrega valor senão títulos. Só não sente dor quem pode pagar para não sentir. O dinheiro não compra tudo, mas faz o paraíso descer à Terra. O ser humano foi criativo quando inventou suas leis, já nos disse "The Playboy Mansion".


Você sabia?


A capa de Pop rendeu questionamentos ao pessoal do U2 após o lançamento. Semanas depois da chegada do álbum, membros da revista Playboy enviaram um fax a produção da banda perguntando por que o famoso "coelho", logo da revista, havia sido incluído na capa do disco. Surpresos com a indagação, os produtores do U2 repararam que se virassem a capa 90º à esquerda, poder-se-ia enxergar o "coelho" da Playboy no olho direito do baterista, Larry Mullen Jr. Apesar da canção "The Playboy Mansion" estar presente no álbum, o detalhe na capa foi meramente acidental. Será mesmo? 

Bom, não custa depois de todo esse lenga-lenga ouvir "The Playboy Mansion".

Até mais!